Quando a "ponta se partiu" deixei de escrever. Agora, que todo o nosso Portugal está já todo partido, lembrei-me de, sem qualquer rigor cronológico, colocar num blogue aquilo que escrevi nos últimos 40 anos, publicado ou não, com ou sem a minha assinatura mas que eu sei, é meu. A PONTA QUE SE PARTIU, também servirá para publicar estados de alma daquilo que, hoje, ouço, vejo e sinto serem responsáveis por Portugal continuar partido
quarta-feira, 28 de março de 2012
BEATRIZ de LUNA - SÉCULO XVI
Estou a ler um livro fantástico de autoria de Isabel Machado e que se chama
ISABEL I DE INGLATERRA E O SEU MÉDICO PORTUGUÊS
Na página 272 aparece uma referência a uma judia portuguesa de nome BEATRIZ DE LUNA e, resolvi investigar.
De verdade chamava-se Gracia Nasci e, proponho que, atrvés do google procurem a "carta do comendador-mor do rei contendo referências a Beatriz de Luna e a João Micas - 11 de Novembro de 1553"
Uma mulher de personalidade excepcional marcou a cultura judaica de maneira singular. É considerada heroína por excelência do judaísmo, e dos sefaraditas em particular.
Doña Gracia Nasi, a mulher judia mais impressionante de sua época, nasceu em Lisboa, Portugal, em 1510, e morreu em 1569. Possuidora de um vasto e complexo império comercial e financeiro na Europa, administrou-o, preservando-o e ampliando a sua fortuna, apesar dos esforços de reis e outros dirigentes para afastá-la de seu patrimônio.
Doña Gracia salvou centenas de marranos da morte e das perseguições. Apesar de seus esforços para estabilizar a economia e a política da comunidade judaica, fracassou. Mesmo assim, foi uma mulher à frente de seu tempo. Tentou agir contra o anti-semitismo, impondo um boicote econômico. Tentou construir uma pátria judaica na Palestina, tendo Tiberíades como base.
A señora, a dama, Ha-geveret – em hebraico – marcou de uma maneira indelével a cultura judaica. Sua lembrança foi perpetuada através das inúmeras sinagogas que têm o seu nome, entre elas, uma em Esmirna, El Kal de la Señora, sinagoga que foi muito freqüentada até 1970, sendo gradativamente abandonada até se tornar um galinheiro.
Doña Gracia Nasi é considerada a heroína por excelência do judaísmo, em geral, e do judaísmo sefaradita, em particular. Nascida no seio de uma família de marranos batizada à força, era obrigada a usar o nome cristão de Beatriz de Luna, substituindo-o mais tarde por Gracia, Hannah, em hebraico. Seu irmão Agostinho Miguel era médico na corte e lecionava medicina na Universidade de Lisboa.
Em 1528, ao 18 anos, Beatriz casou-se com Francisco Mendes, outro marrano que, junto com seu irmão Diogo Mendes, lidera um império de comércio de pedras preciosas e especiarias, além de bancos em vários países da Europa. O casal tem uma filha chamada Brianda que, mais tarde, tornou-se conhecida como Reyna. Em 1537 Francisco Mendes morre, deixando uma criança e uma viúva, que fica à frente de uma imensa fortuna: o império dos Mendes.
A Inquisição foi estabelecida em Portugal em 1536 e Beatriz, percebendo o perigo que corria no país, aos 26 anos, deixou o seu lar acompanhada da filha, da irmã e de seu sobrinho João Miquez (futuro Joseph Nasi), então com 13 anos. Viajaram para a Antuérpia, passando pela Inglaterra e conseguindo fugir, salvando seus bens, para encontrar seu cunhado Diogo Mendes.
Mantendo sempre a aparência de família cristã, Beatriz integra-se e frequenta a mais alta sociedade da Antuérpia. Trabalhando juntamente com o seu cunhado e sócio, expandiram seus negócios. Beatriz era considerada o melhor banqueiro dos reis da França, do Imperador Charles V. Paralelamente a seus negócios, Beatriz e Diogo montaram uma base de operações clandestinas, organizando rotas para ajudar as famílias marranas a fugirem de Portugal e da Inquisição, estabelecendo-se em outros países.
Beatriz e sua família permaneceram em Antuérpia até a morte de Diogo Mendes, em 1543. Quando um nobre cristão pediu a mão de sua filha em casamento, viu-se então diante de um grave problema. Por adiar inúmeras vezes uma resposta positiva, surgiram suspeitas sobre a "lealdade cristã" da família. Beatriz, determinada a casar a sua filha Reyna somente com um judeu e pressentindo o perigo, tomou uma séria decisão.
Em uma manhã, já no final de 1544, o palácio de Beatriz na cidade foi encontrado totalmente abandonado. Sem avisar ninguém, levando apenas suas jóias e pertences pessoais, partiu com a família para Veneza, deixando tudo aos cuidados de seu sobrinho João Miquez.
Posteriormente, mudou-se para Ferrara, na Península Itálica. Lá comandou uma ferrovia subterrânea, nome este dado para designar um movimento que visava ajudar a fuga de cristãos-novos da Espanha e Portugal, bem como suas posses para lugares onde pudessem se estabelecer para viver e trabalhar como judeus.
• Mais tarde mudou-se para Constantinopla, onde tornou-se uma das maiores empresárias no comércio marítimo. Em pouco tempo, Gracia Mendes tornou-se uma proeminente personalidade judaica e a maior patrocinadora dos estudos judaicos da sua comunidade. Assim como diz o Livro dos Provérbios ela abre a sua palma para os pobres e estende suas mãos para os despojados alimentando todos os dias cerca de oitenta pobres em sua própria residência.
• Quando os judeus de Ancona (Península Itálica) foram aprisionados e até mesmo mortos por estrangulamento e queimados vivos pelas autoridades da Inquisição da Igreja, apesar do Papa da época prometer protegê-los, Gracia Mendes convenceu o Sultão de Constantinopla a intervir a favor destes judeus. Apoiada pelo Rabino Joseph Caro (autor do Shulchan Aruch) ela liderou um esforço internacional para boicotar Ancona. Apesar de tudo o boicote fracassou, mas Gracia Mendes tornou-se um exemplo a ser seguido pelas futuras gerações de judeus em favor de seus irmãos perseguidos.
REFERÊNCIAS:
- Catherine Clément: A Senhora, Gracia Nasi e a saga dos judeus no século XVI. (Tradução de Maria do Rosário Mendes)
- Andrée Aelion Brooks: The Woman Who Defied Kings. Paragon House 2002.
- Leon M. Mayer
Presidente da Loja Albert Einstein da B'nai B´rith do RJ
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