Quando a "ponta se partiu" deixei de escrever. Agora, que todo o nosso Portugal está já todo partido, lembrei-me de, sem qualquer rigor cronológico, colocar num blogue aquilo que escrevi nos últimos 40 anos, publicado ou não, com ou sem a minha assinatura mas que eu sei, é meu. A PONTA QUE SE PARTIU, também servirá para publicar estados de alma daquilo que, hoje, ouço, vejo e sinto serem responsáveis por Portugal continuar partido
terça-feira, 3 de abril de 2012
UMA VOLTA PELO CONCELHO (7)
7. MOREIRA
Que querem ver primeiro? - Perguntou o irmão do Senhor Fernandes.
- Queremos ver tudo, respondemos em coro.
- Então vamos começar por ver Prazias…
- Prazias?
- Sim. É em Moreira de Cima. Há vestígios de uma Estação Romana. Provavelmente havia caminhos vicinais, ou estradas classificadas de secundárias. Encontrámos também uma sepultura antropomórfica de adulto, com cabeceira em arco de volta perfeita.
- Havia um conjunto de três mas, apenas resta uma – disse o tio Fernandes com algum desgosto.
- Destroem tudo… E agora?
- Agora vamos em direcção da Ribeira da Calva. Aí temos duas sepulturas do período Medieval Cristão, na encosta norte do Ribeiro, que têm a cabeceira em arco peraltado. Este local chama-se Pêro do Pato.
- E há mais? - Perguntei.
- Há mais um local que vamos visitar em seguida. Foi descoberto pelos Arqueólogos Pedro Rosário e Vítor Dias em 1998 quando acompanhavam a implantação da linha de um gasoduto -explicou o tio do Zito enquanto seguíamos para Vale do Salgueiro.
Trata-se de uma necrópole constituída por três sepulturas antropomórficas sendo uma delas de criança.
- É interessante este conjunto -disse eu.
- Porquê? - Perguntou Zito.
- No território espanhol é que são vulgares os casos de distinção etária nos enterramentos…
- E…
- …E podemos estar na presença de um “panteão familiar”.
- Já vi que sabes disto. Tio, para onde vamos agora? -perguntou Anita.
- Vamos regressar ao centro de Moreira e visitar a igreja.
Chegámos ao largo da Associação de Moreira. Um parque de jogos e um espaço circundante bem tratado e agradável, com mesas e bancos em madeira, semelhantes ao que já tínhamos visto naquela ponte estreita à entrada de Moreira, mostram uma freguesia simpática e bem tratada.
Estacionámos. Passámos pela Casa do Forno e dirigimo-nos, rua abaixo, para a capela. Uma rua com o nome de Jambujeira e outra com o nome de Videira chamou a nossa atenção. A Capela de S. Silvestre estava à nossa direita.
- De que época é esta capela? - Perguntou o Sr. Fernandes.
- As origens são medievais mas quase que nada resta desse tempo. Aqui na fachada nota-se que houve uma intervenção no Barroco. Na porta principal é imponente a concha central em pedra. A torre sineira também é única no concelho. Deve ser, como o portal da fachada, do período barroco.
- Mas Moreira é muito antiga…
- É. A Freguesia tem o seu impulso no tempo do Conde Sisnando, isto é, século XI. Em 1258 ainda pertencia ao extinto Concelho de Senhorim. Podemos encontrar lagaretas ou, como o povo lhes chama, lagares dos mouros em Paraduça…
- E, sendo tão antiga, havia aqui certamente gente importante – sugeriu D.ª Noémia.
- Sim. De Moreira de Baixo saíram dois Bispos de Beja, D. Manuel e D. António Pires Azevedo Loureiro que estiveram envolvidos no Cisma de 1832-1842.
- Vamos voltar ao carro e vamos dar um saltinho a Pisão e depois vamos voltar por Nelas – disse o Tio Fernandes.
Passados alguns minutos estávamos no Largo da Associação de Pisão, seguimos até ao cruzamento para Aguieira onde fizemos inversão de marcha, apreciando algumas casa de pedra, reconhecidamente bem antigas, e seguimos em direcção a Moreira, Carvalhal Redondo, deixando a estrada para Canas à direita e aproximando-nos rapidamente da estrada Nacional 231 que liga Nelas a Viseu.
- Aqui é Algeraz. Ali ao fundo já se vê a rotunda com o Monumento ao Terceiro Milénio, disse eu com ar de entendido.
- Exactamente, disse o Tio Fernandes. E sabem onde vamos agora?
- Eu estou cheio de sede – disse o pai do Zito.
- Isso mesmo. Vamos parar na Vinícola de Nelas onde esperam por nós para uma visita. Quando pararmos, vamos primeiro à estrada para ver os painéis de azulejos.
- Que giros. São com motivos ligados às vindimas – disse Anita.
Voltámos para dentro. Entrámos para a recepção onde um funcionário esperava por nós para visitar as instalações. Percorremos todo o espaço, visitando os diversos locais da produção do vinho até ao local de armazenamento com capacidade para 4 000 000 litros.
E o nosso guia foi dizendo:
- A Vinícola de Nelas foi fundada em 1939. Em 1990 construiu um novo centro de vinificação, com uma moderna adega, provavelmente uma das maiores da região…
- E estes pipos para que servem? - Perguntei.
O nosso guia continuou:
- Estes cascos servem para estagiar o vinho que foi escolhido para produzir as Reservas e Garrafeiras.
- E têm ganho muitos prémios?
- Muitíssimos. Realço o Escanção Branco 1992 que conquistou a medalha de ouro no Chalange Internacional du Vin. Vamos passar para aquele edifício onde vão saborear os nossos melhores vinhos.
- E que edifício é esse?
- Chamamos-lhe Quinta das Estrémuas. É um espaço com cerca de 2 000 m2, metade do qual ao ar livre com capacidade para cerca de 250 pessoas. Aqui imperam os motivos vínicos e é o local ideal para todo o tipo de festas, incluindo congressos, reuniões de empresas, etc.
- Isto é muito típico…
- Realmente, os velhos tonéis, os portões em ferro trabalhado com motivos vinícolas e as paredes em granito, transmitem toda a história desta empresa.
Quando os mais velhos acabaram de provar, enaltecer o vinho, comprar algumas garrafas e agradecer a oportunidade da visita, arrancámos em direcção às Caldas da Felgueira.
Eram quase horas de jantar e, nessa noite, no Posto de Turismo tínhamos uma exposição de aguarelas para visitar.
BIBLIOGRAFIA
- Correia, Alberto, Roteiro Turístico do Distrito de Viseu, 1981
- Eusébio, Fátima e Marques, Jorge, Arqueologia e Arte no Concelho de Nelas, 2005
- Folheto promocional Quinta da Lagoa
- Folheto promocional Vinícola de Nelas
- Saraiva, José Hermano, História de Portugal, 1983
- Loureiro, José Pinto, Concelho de Nelas, 1988
- Marques, Jorge Adolfo de Meneses, Sepulturas Escavadas na Rocha na Região de Viseu, 2000
- Marques, Jorge Adolfo de Meneses, Actas do 3º Congresso de Arqueologia Peninsular, 2001
- Leal, Pinho, Portugal Antigo e Moderno
- Folheto promocional Quinta da Lagoa
- Revista Municipal de Nelas, nº 5, Julho de 2001
- Revista Municipal de Nelas, nº 6, Agosto de 2002
- Roteiro Arqueológico da Região de Turismo Dão Lafões, 1994
- Espírito Santo, Sérgio, Senhorim Memórias Que o Tempo Não Apagou, 2001
- Site de Carvalhal Redondo
(Publicado em 2007)
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